segunda-feira, 12 de outubro de 2020

1822: COMO UM HOMEM SÁBIO, UMA PRINCESA TRISTE E UM ESCOCÊS LOUCO POR DINHEIRO AJUDARAM D. PEDRO A CRIAR O BRASIL – UM PAÍS QUE TINHA TUDO PARA DAR ERRADO – LAURENTINO GOMES


Sob uma perspectiva jornalística, Laurentino Gomes, divide o segundo livro da sua trilogia em 22 capítulos: O Grito; O vendaval; O país improvável; Os brasis de D. João; As cortes; De Minas ao Ipiranga; D. Pedro I; A princesa triste; A guerra; Louco por dinheiro; A Batalha do Jenipapo; A Bahia; O trono e a constituinte; A fuga; A confederação; A maçonaria; Os órfãos; A marquesa; O Rei português; Adeus ao Brasil; A guerra dos irmãos; e O fim.

Como no primeiro livro da trilogia, 1808, a minha linha preferencia pela linguagem direta e objetiva é determinante para que eu ache o livro demasiadamente prolixo sem necessidade, fugindo do objetivo do enredo muitas vezes para descrever o contexto social ou “causos” que aconteceram naquela época, que se descobertos seriam motivo até assassinatos, hoje são motivos de entretenimento.

Por isso  reafirmo que pode ser visto como um livro de história interessante para entender como as pessoas viam a vida naquela época no Brasil e como elas viviam, mas ter como enfoque a Monarquia Brasileira não foi a graciosidade do livro, como também não foi o do primeiro livro da trilogia, 1808.

O livro começa contando a história do Grito. 

Sabe-se que todo o cenário da independência brasileira foi construído pelos portugueses, pois decretos destituíram D. Pedro I do papel de príncipe regente e o reduziram à mero delegado das autoridades de Lisboa; estipularam que os ministros seriam nomeados em Portugal, tirando a autoridade de D. Pedro I; extinguiram ou transferiram para Portugal tribunais e repartições em funcionamento durante a permanência da Corte; determinaram que cada província elegeria sua própria junta de governo que se reportaria diretamente a Lisboa; nomearam interventores militares encarregados de manter a ordem em cada província e de obedecer somente à Portugal.

O desejo das cortes portuguesas que toda família real portuguesa voltasse do Brasil era produto de uma guerra civil entre portugueses, desencadeada na Revolução Liberal do Porto de 1820 por ressentimentos acumulados pelas decisões adotadas por D. João VI.

Encurralado e sem poderes, D. Pedro I ainda recebeu uma carta, no final de 1821, ordenando a sua volta à Portugal. Isso levou a uma onda de protestos no Brasil, pois ele era adorado pelos brasileiros, os quais queriam assegurar a autonomia e os benefícios já conquistados quando D. João VI comandava o país e o elevou a Reino Unido com Portugal.

D. Pedro I, tinha 23 anos, estava viajando, montado em uma mula, e acompanhado de cinco pessoas do Rio de Janeiro para São Paulo. Era uma viagem complicada, pois além das estradas não ajudarem muito, ele estava sofrendo com dores de barriga e diarreia durante todo o trajeto. No alto das margens do rio Ipiranga, D. Pedro I recebe uma cara que lhe faz declarar a independência, mas, como já se observou não era algo inesperado, pois o Brasil não tinha exércitos, navios, oficiais, armas ou munição para sustentar a guerra pela sua independência.

Nem todas as províncias aceitaram a independência, as divergências regionais e as tensões sociais foram sufocadas à custa de guerras, prisões, exílios e perseguições.

No capítulo sobre a Princesa Triste, o autor fala sobre a esposa de D. Pedro I, a Princesa Leopoldina. Na verdade, nos primeiros anos de sua vida no Brasil, ela não era uma princesa triste, mas foi se tornando ao ver o distanciamento do marido e a sua infidelidade às claras, sem poder se manifestar. 

Apesar disso, a Princesa Leopoldina teve sete filhos, dentre os quais três morreram ainda crianças. Ela também era uma mulher ativa politicamente. Sabe-se que foi ela quem assinou a declaração da independência escrita por José Bonifácio e depois enviada a D. Pedro I, que estava em São Paulo. Dessa forma, do ponto de vista formal, quem declarou a independência foi a Princesa Leopoldina e José Bonifácio.

Ela tinha um discurso mais liberal a favor da causa brasileira  e era querida por todos, mas morreu muito jovem, aos 30 anos, deprimida e doente.

No capítulo sobre a guerra é importante salientar na dificuldade de obter um exército no Brasil, pois a aversão ao serviço militar era grande. O autor relata que jovens amputavam dedos dos pés e das mãos na tentativa de fugir do recrutamento, pois ser militar na época era considerado pior que ser escravo. 

Como já disse, o Brasil não tinha exércitos, navios, oficiais, armas ou munição, então, a saída era a compra de navios e a contratação de um exército mercenário, inclusive de um escocês famoso em ganhar guerras e Louco por dinheiro.

No capítulo sobre o trono e a constituinte, relata que a aristocracia rural aceitaria qualquer coisa da constituinte, menos mudanças nas estruturas sociais que sustentavam a economia brasileira e garantiam seus privilégios.

Tendo isso em mente, sabe-se que a primeira Constituição foi outorgada pelo Imperador em 1824, sendo uma das mais avançadas da época na proteção dos direitos civis, exceto se comparada a dos Estados Unidos. No entanto, o povo nunca se reconheceu nela.

Como não existiam partidos políticos naquela época, as ideias eram discutidas em igrejas, clubes e sociedades secretas, tais como a maçonaria. O capítulo da maçonaria revela que ele foi responsável por uma imensa contribuição para o movimento da independência e que ela já estava decidida há alguns meses antes.

Com a morte de D. João VI em 1826, D. Pedro I torna-se o legítimo herdeiro do trono português: o Rei português. D. Pedro I nomeou o irmão regente de Portugal, mas impôs que deveria jurar a nova Constituição e se casar com a sobrinha e legítima herdeira do trono, Maria da Glória, que se tornaria a Rainha de fato quando atingisse a maioridade.

No entanto, em 1831, D. Pedro I foi obrigado a abdicar do trono brasileiro por diversos motivos: escândalos da sua vida privada; notória oscilação entre os interesses brasileiros e portugueses; envolvimento com a Marquesa de Santos, sua amante, e a morte da popular Imperatriz Leopoldina; condições do tratado com os portugueses de reconhecimento da independência desvantajosos para os brasileiros; longa e desgastante guerra pelo controle da província da Cisplatina, hoje considerado o Uruguai; e a permanente instabilidade política do Primeiro Reinado, resultante de seu caráter impulsivo e autoritário.

Com a saída de D. Pedro I do Brasil, ele deveria tirar seu irmão, que estava como príncipe regente do poder e não estava seguindo as imposições do tratado que ambos fizeram, pois D. Miguel I era contrário aos liberais. Assim, a guerra dos irmãos se resumiu à invasão de D. Pedro à cidade do Porto, sem reação dos absolutistas, e à invasão a cidade de Lisboa, com a ajuda da Inglaterra, permitindo que seu irmão partisse para o exílio sem represálias.

Por fim, D. Pedro morre três anos depois, aos 35 anos, de tuberculose. Sabe-se que ele era epilético e que se esforçou para modernizar as leis e a sociedade que governou. Ele se dedicou à política de forma apaixonada, carismática e visionária. Talvez seu grande pecado seja ter amado muitas mulheres, o que levou a Imperatriz Leopoldina ao túmulo e seu governo ao descrédito.

Como no primeiro livro da trilogia, 1808, após você ter lido esse resumo, deve ter notado a falta de alguns capítulos, são justamente os que eu julgo que são desnecessários para uma leitura política do livro, a qual era  minha pretensão. 

Caso queira se divertir com os demais capítulos, com histórias até, vamos dizer, engraçadas e surpreendentes, não deixe de ler o livro de cabo a rabo. Um exemplo foi o capítulo sobre A Marquesa. Na verdade, ela era uma viúva que D. Pedro I se apaixonou loucamente, dando todos os tipos de presentes a ela, inclusive o título de Marquesa. O caso amoroso demonstrado a público. Até colocar a Marquesa como dama de companhia da Imperatriz Leopoldina, D. Pedro I fez. Essa fissura foi acabando assim que D. Pedro I encontrou um novo amor.

Como vocês podem observar, esse fato não corrobora com o enredo político da Monarquia Brasileira, a não ser para influenciar negativamente a visão que os brasileiros tinham de D. Pedro I, ao não respeitar os valores familiares da época. 

Contudo, meu objetivo central não era avaliar o contexto social valorativo da época, mas fazer uma análise substancial do conteúdo do livro, por isso foquei nos fatos políticos mais importantes que formam o enredo da história da Monarquia do Brasil. 


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