Sob uma perspectiva jornalística, Laurentino Gomes, divide o terceiro e último livro da sua trilogia em 24 capítulos distribuídos em quase 300 páginas: O Príncipe e O Astronauta; O Golpe; O Império Tropical; A Miragem; D. Pedro II; O Século das Luzes; Os Republicanos; A Mocidade Militar; A Chama nos Quartéis; O Marechal; O Professor; Os Abolicionistas; A Redentora; O Imperador Cansado; O Baile; A Queda; O Adeus; Os Bestializados; Ordem e Progresso; O Difícil Começo; A Roda da Fortuna; O Caboclo do Norte; Paixão e Morte; e O Desafio.
Seguindo a tendência da trilogia, como minha preferencia é a linguagem direta e objetiva, continuo achando o livro demasiadamente e desnecessariamente prolixo, fugindo do objetivo do enredo muitas vezes para descrever o contexto social ou acontecimentos, que naquela época caso fossem descobertos seriam motivos até de assassinatos, mas hoje são motivos de entretenimento.
Por isso reafirmo que pode ser visto como um livro de história interessante para entender como as pessoas viam a vida naquela época no Brasil e como elas viviam, mas ter como enfoque a Monarquia Brasileira não foi a graciosidade do livro, como também nos demais da trilogia.
Posso começar a descrever como foi o Golpe. O principal motivo da Proclamação da República foi o esgotamento da Monarquia, não os valores republicanos. O sentimento mais generalizado não era o da crença na República, mas o da descrença na Monarquia.
Além de fracos eleitoralmente, os republicanos eram divididos. Como não tinham força política, o Partido Republicano passou a ver o Exército como uma forma para acelerar a mudança do regime por meio de uma Golpe militar.
Por isso, o Golpe militar foi estabelecido com escassa e tardia participação das lideranças civis, pois não havia uma campanha que estimulasse a participação popular. Raros eram os civis que tinham o conhecimento da real movimentação nos quartéis. Para falar verdade, a maioria dos soldados não tinham consciência de que se pretendia derrubar a Monarquia, tanto que vários se arrependeram do que fizeram.
O contexto do Império Tropical era transferência da região econômica do nordeste para o sul e sudeste com a chegada de milhares de imigrantes europeus por causa da proibição do tráfico negreiro em 1850 pela Inglaterra. Nessa época 85% dos brasileiros eram analfabetos, 80% viviam na área rural, 70% viviam da agricultura, sendo que 60% da produção mundial do café era fornecida pelo Brasil. Portanto, era um Império baseado na escravidão, no analfabetismo, no isolamento e nas rivalidades políticas e regionais.
Quando D. Pedro I foi abdicado do Brasil, ele deixou seu filho com 5 anos de idade em terras brasileiras, em companhia de três das quatro irmãs mais velhas, para assumir o trono quando adquirisse maioridade.
Como o pai, ele sofria de epilepsia. Casou-se por procuração 7 meses antes de completar 18 anos com Teresa Cristina, com a qual teve quatro filhos dos quais dois morreram antes de completar dois anos.
Diferentemente de seu pai, que tinha uma vida abalada por escândalos amorosos, conseguiu preservar sua imagem de marido fiel e bom comportado, apesar de ter tido 14 namoradas.
Com relação ao seu governo, depois que seu pai abdicou, houve um período de regência entre 1831-1840, mas, mesmo com 16 anos, à revelia da Constituição, D. Pedro II, foi declarado maior e aclamado Imperador diante às Câmaras reunidas, o que foi chamado de Golpe da Maioridade.
Do pai herdou a austeridade no uso do dinheiro público e a meticulosidade na administração dos negócios públicos. Para ele a melhor opção seria uma república com presidente hereditário.
Os fatores que desgastaram o Segundo Reinado podem ser citados: a distribuição de títulos de nobreza como moedas de troca em favor de apoio político ou financeiro; a proliferação do empreguismo público que representava 70% das despesas do governo; a vitaliciedade dos senadores nomeados pelo Imperador; o clientelismo; o voto cabresto, ou seja, como o voto não era secreto, os coronéis locais vigiavam a escolha dos seus protegidos e usavam a polícia para impedir que eleitores da oposição votassem; e a execução da lei dependia dos chefes locais, que mandavam prender adversários ou soltar aliados de acordo com suas conveniências.
Além disso, D. Pedro II dissolveu a Câmara diversas vezes somente para promover a rotatividade dos partidos, portanto a formação do governo dependia mais da vontade do Imperador do que do resultado das urnas.
Era a época do Século das Luzes e D. Pedro II sempre estava atualizado com as novidades de sua época por meio de suas viagens pelo mundo. Foi a época do surgimento do telefone, da fotografia, dos navios a vapor, das locomotivas, do telégrafo e do avião. Foi também a época do surgimento da discussão de novas ideias como o capitalismo, o socialismo, o comunismo, o nacionalismo, do imperialismo e do positivismo.
Entre os movimentos republicanos mais significativos posso citar a Conjuração Mineira de 1789 e a Confederação do Equador de 1824. Ambos sonhavam que o Brasil se tornasse uma República assim como suas nações vizinhas.
O sentimento da Mocidade Militar quanto à Monarquia era de frustração, pois se sentiam mal recompensados e desprestigiados pelo governo. Eles reclamavam dos soldos, da redução dos efetivos das Forças Armadas depois da Guerra do Paraguai, da demora nas promoções, e da falta de modernização dos equipamentos e regulamentos.
Como já citei, o tráfico negreiro foi proibido em 1850, por meio da Lei Eusébio de Queiroz, o que obrigou a transferência regional da economia brasileira do nordeste para o sul e sudeste com uma nova mão de obra: a imigratória.
No entanto, a campanha abolicionista continuou. Em 1871, foi estabelecida a Lei do Ventre Livre, a qual o proprietário dos escravos poderia manter a criança junto aos pais na senzala até os 8 anos de idade, quando poderia entregar o menor ao governo em troca de uma indenização ou continuar com ele até os seus 21 anos. E por fim, a Princesa Isabel: a Redentora, assinou a Lei Áurea, em 1888, que aboliu por completo a escravidão no país. Essa foi a primeira campanha de dimensões nacionais com participação popular, mas que despertou um sentimento de traição dos Barões do Café do Vale do Paraíba.
Em 1889, o Imperador se encontrava cansado devido sua diabetes, tanto que ao ser notificado do Golpe, ele não acreditou. Só quando Deodoro da Fonseca já tinha tomado o poder, ele se prontificou a sair de sua casa em Petrópolis para saber o que estava acontecendo, mas já era tarde demais.
A população assistiu o banimento da família imperial do território nacional sem nenhuma demonstração de entusiasmo, totalmente bestializado atônito e surpreso, tamanha era sua falta de apreço pela causa republicana.
Os militares dominaram por completo a cena política brasileira, baseando-se no positivismo, que tinha como lema que a enorme massa da população teria de ser conduzida e controlada pela elite republicana, por ainda não estra preparada para participar ativamente do processo de transformação. Uma vez entendida a ordem da sociedade seria possível reformar as suas instituições de maneira a acelerar o seu progresso.
Por isso, foi outorgada uma Constituição Republicana em 1891, depois de um governo provisório entre 1889 e 1891 sob o comando de Marechal Deodoro da Fonseca, o qual nem republicano era, mas estava se sentindo injustiçado pela Monarquia.
A nova Constituição era baseada nos princípios positivistas: separação da Igreja e do Estado; estabelecimento do casamento civil; reorganização geral do Exército; imunidade parlamentar; princípio da independência entre os poderes Executivo e Legislativo; autonomia de 20 estados e do Distrito Federal; e harmonia e independência entre si dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
As eleições eram consideradas universais e secretas, mas somente homens com mais de 21 anos, exceto os mendigos, analfabetos, soldados e religiosos de ordens monásticas, podiam votar.
Após o governo provisório, Deodoro da Fonseca foi eleito indiretamente como o primeiro Presidente da República em 1891, no entanto, estabeleceu um difícil começo, sofrendo ataques por todos os lados. Portanto, ele dissolveu o Congresso; e instaurou o estado de sítio, que suspendia todos os direitos individuais e políticos.
No entanto, ele renunciou 9 meses depois. Seu vice, Floriano Peixoto assumiu, mas não quis convocar novas eleições, como a Constituição deliberava, pois advogava que essa norma somente caberia para eleições diretas, o que não foi o caso de Deodoro.
Floriano Peixoto afastou do governo todos os simpatizantes à Monarquia e ao Deodoro da Fonseca. Ele tinha desprezo pela opinião pública.
Os caos estabelecido pelos primeiros anos da República fez crescer entre a elite civil a certeza de que era preciso afastar os militares do poder.
Como nos demais livros da trilogia, após você ter lido esse resumo, deve ter notado a falta de alguns capítulos, são justamente os que eu julgo que são desnecessários para uma leitura política do livro, a qual era minha pretensão.
Caso queira se divertir com os demais capítulos, com histórias até surpreendentes, não deixe de ler o livro de cabo a rabo. Um fato até simbolicamente importante foi que em 1920, o Presidente Epitácio Pessoa revogou o decreto republicano que banira a família imperial do território nacional. E em 1821, os restos mortais do Imperador e da Imperatriz foram trasladados para a catedral de Petrópolis.
Como vocês podem observar, esse fato não corrobora com o enredo político da Monarquia Brasileira, a não ser como símbolo de que o povo brasileiro se arrependeu de ter banido a família Imperial e de que o Golpe militar não foi almejado.
Contudo, meu objetivo central era fazer uma análise substancial do conteúdo do livro, por isso foquei nos fatos políticos mais importantes que formam o enredo da história da Monarquia do Brasil.
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