Sob uma perspectiva jornalística, Laurentino Gomes, divide este best-seller em 29 capítulos: A fuga; Os reis enlouquecidos; O plano; O império decadente; A partida; O arquivista real; A viagem; Salvador; A colônia; O repórter Perereca; Uma carta; O Rio de Janeiro; D. João; Carlota Joaquina; O ataque ao cofre; A senhora dos mares; A transformação; O chefe da polícia; A escravidão; Os viajantes; O Vietnã de Napoleão; A república pernambucana; Versailles tropical; Portugal abandonado; O retorno; O novo Brasil; A conversão de Marrocos; O segredo.
Não sei se é porque prefiro uma linguagem mais direta e objetiva, mas sinto muito em dizer que eu eliminaria metade desse livro de mais de 400 páginas. Achei ele muito prolixo, citando nomes que não somavam nada ao enredo da história e contando a história de coadjuvantes que nada interferiram na história política do nosso país.
Pode ser visto como um livro de história interessante para entender como as pessoas viam a vida naquela época no Brasil e como elas viviam, mas ter como enfoque a Monarquia Brasileira não foi a graciosidade do livro.
O livro começa contando como foi a fuga de D. João VI para o Brasil. Ele se encontrava encurralado por Napoleão Bonaparte, que já havia tomado o poder de quase todas as terras europeias naquela época e tinha declarado o bloqueio continental na Europa. Dessa forma, D. João tinha duas escolhas a tomar: permanecer em Portugal e enfrentar as tropas napoleônicas com a ajuda da Inglaterra; ou fugir para o Brasil com o apoio da Marinha inglesa, pois sua Marinha era insignificante.
O plano de D. João VI era fugir para o Brasil junto com a Corte corrupta, no entanto, ele não revelou isso à Napoleão. Antes de fugir, D. João VI disse a Napoleão que se entregaria a fim de protelar e dar mais tempo para que ele e a Corte portuguesa se preparasse para a fuga. Por pouco, as tropas napoleônicas não pegaram D. João VI e a Corte portuguesa em fuga.
Hoje se sabe que a transferência para o Brasil já havia sido sugerida algumas vezes por diversos reis, ministros e conselheiros ao longo de quase três séculos, portanto não foi uma decisão que causasse surpresa, mas foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas.
Como consequência da fuga, Portugal foi invadido por franceses e espanhóis. Ele se encontrava na extrema pobreza, pois por ter uma
“...população relativamente pequena, de 3 milhões de habitantes, (...) não tinha gente nem recursos para proteger, manter e desenvolver seu imenso império. Dependia de escravos em quantidades cada vez maiores para as explorações de suas minas de ouro e diamante e suas lavouras de cana-de-açúcar, algodão, café e tabaco.”
Além disso, o contexto de decadência do império português envolvia o aspecto econômico, devido a escassez de capital, por sua dependência extrativista e mercantil; e o aspecto do desenvolvimento científico e da medicina que era atrasado, por sua cultura religiosa e aversão à modernização dos costumes e das ideias.
A viagem de D. João VI demorou quase 3 meses e meio e fez uma escala de 5 semanas em Salvador, no entanto, o restante do comboio foi direto para o Rio de Janeiro, onde D. João VI somente chegaria em 7 de março de 1808.
Em Salvador, D. João VI tinha planos políticos, pois sabia que lá seria bem recebido. Logo que chegou assinou carta régia de abertura dos portos ao comércio de todas as nações amigas, pois, além de ser uma dívida com a Inglaterra por ter lhe feito escolta até o Brasil, não tinha como fazer comércio com a maioria dos países europeus que estavam sob o bloqueio continental de Napoleão.
Além disso, D. João VI ainda realizou diversas benfeitorias no período que esteve em Salvador.
Ao descrever o Rio de Janeiro daquela época, Laurentino Gomes enfatiza a falta de um sistema de coleta de esgotos até 1860, a sujeira nas ruas e nos costumes das pessoas: “As mulheres brasileiras têm o péssimo hábito de escarrar em público” ou “Comem todos com os dedos.”
Com a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, entre 1808 e 1822, a área da cidade triplicou com a criação de novos bairros e freguesias, a população cresceu 30% e o número de escravos triplicou.
Ao falar sobre D. João VI, o autor resumiu sua personalidade em quatro características marcantes: medrosa, tímida, insegura e depressiva. Nada condizente com alguém preparado para governar, mas ele não teve escolha. D. João VI reinava em nome de sua mãe, D. Maria I, a Rainha louca, pois tinha sido declarada insana e incapaz de governar. Ele até teve um irmão mais velho que poderia ter assumido o trono, mas morreu de varíola em 1788.
Em 1816, D. João VI torna-se Rei de Portugal e do Brasil depois da morte de sua mãe, pois, em 1815, D. João VI tinha elevado o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves e tinha promovido o Rio de Janeiro a sede oficial da Coroa.
Já ao analisar a esposa de D. João VI, Carlota Joaquina, Laurentina demonstra uma figura totalmente oposta ao do marido. Ela era ultraconservadora, teimosa, dura, turrona e irredutível. Eles não viviam como marido e mulher, pois não se davam bem. Ela até tentou destronar o marido em 1805, quando ele estava tendo uma crise de depressão, mas ele conseguiu voltar ao trono e conter a ambiciosa esposa. Ela também lutou para assumir a regência das colônias espanholas, contra a vontade de D. João VI.
D. João VI morreu em 1826 por suspeita de envenenamento por ordens da própria Carlota Joaquina, o que não adiantou muito, pois quatro anos depois ela também foi a óbito.
Em 1817, desencadeou o primeiro movimento genuinamente republicano no Brasil. Conhecido como a Revolução Pernambucana, ele tinha entre suas causas: a queda do preço do açúcar por causa do aumento da produção mundial; a crescente pressão dos abolicionistas; a devastadora seca que atingiu o sertão nordestino em 1816; e a forte influência da Revolução Francesa. Houve uma violenta reação portuguesa e a capitania de Pernambuco foi desmembrada da Comarca de Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis a Coroa.
Nos treze anos em que D. João VI permaneceu no Rio de Janeiro, Portugal se sentiu abandonado, em um contexto de fome e de grandes sofrimentos.
Depois da fuga, nos sete anos seguintes, mais de meio milhão de portugueses fugiram do país ou morriam de fome ou nos campos de batalha da chamada Guerra Peninsular.
Na verdade, desde 1810, D. João VI poderia ter voltado para Portugal, pois as tropas francesas tinham sido expulsas de seu país, mas somente em 1820, com a tomada do poder de revolucionários liberais portugueses da cidade do Porto, que exigiram a volta de D. João VI a Lisboa, que o Imperador decide voltar.
Além de ser amado e querido pelo povo carioca, se dependesse de D. João VI, ele ficaria no Brasil.
O Imperador raspou os cofres do Banco do Brasil e levou embora o que ainda restava do Tesouro Real que havia trazido para Colônia em 1808.
Ainda a bordo no navio, teve que jurar a nova Constituição de Portugal, elaborada sem seu consentimento.
Ele deixou um novo Brasil, pois foi responsável pela integridade territorial brasileira, pela instalação da Escola Superior de Medicina, pelo Laboratório de Estudos e Análises Químicas, pela Academia Real Militar, pelo Supremo Conselho Militar e de Justiça, pela Intendência Geral de Polícia da Corte, pelo Erário Régio, pelo Conselho de Fazenda, pelo Corpo da Guarda Real, pela Biblioteca Nacional, pelo Museu Nacional, pelo Jardim Botânico, pelo Real Teatro de São João, e pela liberdade de comércio e indústria manufatureira.
Por fim deu início à classe dirigente que se responsabilizaria pela construção do novo país e deixou seu herdeiro D. Pedro I, que seria responsável pela proclamação da Independência do Brasil em 1822, um ano após D. João VI ter retornado com a família real para Portugal.
Após você ter lido esse resumo, deve ter notado a falta de alguns capítulos, são justamente os que eu julgo que são desnecessários para uma leitura política do livro, a qual era minha pretensão.
Caso queira se divertir com os demais capítulos, com histórias até, vamos dizer, engraçadas e surpreendentes, não deixe de ler o livro de cabo a rabo. Devo exemplificar com o último capítulo: O segredo, que conta a história de uma filha que o arquivista teve antes de casar com sua esposa. Mesmo sendo com sua esposa, a cultura da época não aceitava filhos fora do casamento. Portanto, essa filha teve que ser doada a um convento. Como eram poucas as pessoas na época, o autor tinha como descobrir pelo nome quem exatamente era filho de quem. Por isso, ele soube que essa menina era filha do casal.
Como deu para perceber, esse fato não muda muito a história política do país, não é mesmo? Só demonstra a cultura ultraconservadora da época. Meu objetivo não era esse. Era fazer uma análise substancial do conteúdo do livro, por isso foquei nos fatos políticos mais importantes que formam o enredo da história da Monarquia do Brasil.
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